quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Gravações revelam articulação para estender greve de PMs ao RJ e SP

O Jornal Nacional teve acesso a gravações, feitas com autorização da Justiça, de uma conversa entre um grevista baiano e Marco Prisco, o principal chefe do movimento, que negou ter participado de atos de violência. Na gravação, os dois combinam uma ação de vandalismo.
Marco Prisco: Desce toda a tropa para cá, meu amigo. Caesg e você. Desce todo mundo para Salvador, meu irmão. Estou lhe pedindo, pelo amor de Deus, desce todo mundo para cá.
David Salomão: Agora?
Marco Prisco: Agora, agora. Embarque.
David Salomão: Eu vou queimar viatura. Eu vou queimar duas carretas agora na Rio-Bahia, que não vai dar tempo.
Marco Prisco: Fecha a BR aí, meu irmão. Fecha a BR.
Em outra gravação, quem aparece falando é o cabo bombeiro do Rio de Janeiro Benevenuto Daciolo. Ele já se candidatou a deputado estadual no Rio e foi um dos chefes do movimento grevista dos bombeiros no ano passado. Daciolo conversa com um homem a quem ele classifica de "importantíssimo" a respeito de uma possível votação da PEC 300 - a emenda constitucional que garantiria um piso salarial único a bombeiros e policiais de todo o Brasil. Na conversa, fica claro que o objetivo é estender a greve de policiais e bombeiros a Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados, com o objetivo de prejudicar o carnaval.
Dacilolo: Pergunta ao senhor, que é pessoa importantíssima, a respeito da nossa PEC. Pergunto, qual é a verdadeira possibilidade de nós passarmos em segundo turno na semana que vem?
Daciolo: Não sei se o senhor sabe. Eu estou com uma Assembleia Geral amanhã no Rio de Janeiro, com a abertura de uma greve geral no Rio também, com probabilidade de não ter carnaval nem na Bahia nem no Rio esse ano. E São Paulo está para dar uma resposta agora e os outros estados também. Nós acreditamos que, se tivesse uma resposta do governo, assinalando uma possibilidade de votação no segundo turno da PEC, acalmaria muito, muito o que está acontecendo na Federação.
Em outro trecho, o cabo Daciolo, que estava em Salvador, ouve de uma mulher uma recomendação para que tente influenciar o movimento dos grevistas baianos a não fechar um acordo com o governo. Segundo esta mulher, isto enfraqueceria uma possível greve no Rio.
Mulher: Daciolo, Daciolo, presta atenção. Está errado fechar a negociação antes da greve do Rio.
Daciolo: Tudo bem, tudo bem. Sabe o que vou fazer agora? Avise para ele que eu vou embora daqui, não vou ficar mais aqui.
Mulher: Eles não querendo que você avalize um acordo antes da greve do Rio. Depois da greve do Rio, muda tudo. Sabe como você vai ajudar eles? Voltando para o Rio, garantindo aqui. O governo vai fazer uma propostinha rebaixada para vocês, vai melhorar um pouquinho esse negócio que eles colocaram. E acho, se vocês garantirem a greve aqui, a mobilização aqui, vocês vão ajudar a Bahia a liberar o Prisco, a ter uma negociação.
Ouvido pelo Jornal Nacional, por telefone, na Bahia, o cabo Daciolo disse que não se recorda dessas conversas e garantiu que está negociando de forma pacífica um aumento salarial para bombeiros e policiais baianos.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que as gravações comprovam que o movimento tem como objetivo gerar insegurança na população e provocar distúrbios que ameaçam a lei e a ordem. Para o governador, essas pessoas não representam o sentimento da maioria dos profissionais de segurança do estado.
Na noite desta quarta-feira, o clima voltou a ficar tenso no prédio da Assembleia Legislativa. Houve uma confusão. Os manifestantes foram para um acesso do centro administrativo. A polícia do Exército reforçou a barreira e usou spray de pimenta para impedir a entrada de outros manifestantes.
O Superior Tribunal de Justiça negou dois pedidos de habeas corpus para os líderes Marcos Prisco e Alessandro Borges Reis. Os pedidos foram analisados e negados pelo ministro Og Fernandes.
Mais cedo, representantes dos setores de turismo e do carnaval se reuniram em Salvador e disseram que vai ter carnaval na cidade, blocos e trios serão colocados nas ruas e que estão estudando estratégias de segurança, caso a greve continue.

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